4. Dácia Naiana Moreira Abreu
Uma
arte-educadora codoense
Conhecida
em espaços formais como Dácia Abreu, nasceu dia 08 de dezembro de 1985 em
Codó-Maranhão, filha da professora e Secretária de repartição/administrativa
Raimunda Dulcinéia Moreira Abreu, e de Ciro Abreu, conhecido vendedor de
frangos abatidos do Mercado Central de Codó. Tem como irmãos (biológicos)
Márcia Fernanda Moreira Abreu, fruto do mesmo casamento, e Júlio César, residente
fora do Maranhão há muitos anos, desta vez de um relacionamento anterior de seu
pai. A família reside há quase 40 anos na mesma casa localizada em uma das
principais ruas do bairro Santa Filomena, próximo à Praça da Bandeira, do
Mercado Central e da ponte sobre o Rio Itapecuru, na região da divisa da Cidade
Baixa com a Cidade Alta.
Formação Educacional
Desde muito cedo ligada à educação, passou seu maternal na extinta
Escola Menino Deus por três anos até iniciar sua alfabetização na Escola
Pequeno Polegar, sempre muito participativa em atividades regulares; passeios;
competições esportivas; gincanas; projetos; exposições artísticas, científicas
e culturais; fanfarra musical entre outras, sendo também líder de sala em
diversas ocasiões. Permaneceu na Escola Pequeno Polegar até a conclusão do
ensino médio em 2003. Ingressou na Universidade Federal do Maranhão – UFMA, em
São Luís, no primeiro semestre de 2004, cursando Bacharelado em História após
aprovação pelo extinto Programa de Seleção Gradual (PSG), concluindo em 2010;
também cursou Especialização em História do Maranhão na Universidade Estadual
do Maranhão (UEMA); e concluiu sua Licenciatura em História na UFMA em 2016.
Como intelectual na cidade de Codó –
MA, discute temas como Museu e Patrimônio Histórico; reflexões sobre o Centro
Histórico de São Luís; Identidade Negra e Classe Trabalhadora que renderam
trabalhos apresentados em Congressos de estudantes de História e de cientistas
(Pernambuco; São Paulo; Paraíba) e de moradores de casa de estudantes (Sergipe;
Piauí; Mato Grosso). Essas áreas de interesse lhe forneceram o mutualismo
operário que ela investigou como tema principal dos trabalhos de conclusão de
curso: “Os Dias de União” (Bacharelado em História na UFMA-2010) sob orientação
de Wagner Cabral da Costa, “É a Herança que Eu posso Te Dar” orientada pelo
mesmo professor, e “Nem Sindicato, Nem Clube” (UEMA), sob orientação de Marcelo
Cherche. Sempre preocupada em contextualizar a cidade de Codó a partir da
existência e importância das sociedades de classe – “meio clubes e meio
sindicatos” – Sociedade Previdente Mutuária, Centro Operário Codoense e,
principalmente União Artística Operária Codoense na pessoa de senhor Wildelano
José.
No meio do segundo semestre de 2022,
agora como professora, tendo sido selecionada para acompanhar como
professora-anfitriã do Programa de Iniciação à Docência – PIBID do Cursos de
Ciências Humanas/História da UFMA/Codó, onde aconteceu a troca de experiências
entre ela e os estudantes de graduação: esta experiência lhe serviu como
capacitação e atualização sobre práticas pedagógicas e metodologias de
ensino-aprendizagem.
Inserção e Contexto Político-Cultural
Concomitantemente à vida estudantil-desportista, seu interesse pela
cultura e religiosidade afro-brasileira, desde os mais ancestrais como Tambor
da Mata de Codó, até as mais modernas culturas das ruas como break e rap.
Durante sua adolescência entre 2000 e 2003 no grupo de break/dança de rua
D’Angels, frequentado em sua maioria por homens, que buscava ser, para Michael
Carlos, França e Max Márcio, os responsáveis pelo grupo, um trabalho social
voltado para que se mantivessem longe das drogas e entre 2001 e 2002 foi
colaboradora do programa de rádio visão de Rua dedicado ao universo da cultura
Hip Hop na extinta rádio Jovem 10, com a reunião de várias jovens lideranças
(principalmente masculinas) de diferentes bairros da cidade.
Nesse mesmo período, se aproximando
mais da religiosidade, começou a conhecer mais de perto casas, e rituais das
religiões afro em Codó, com destaque para a Tenda Espírita de Umbanda Rainha
Iemanjá (Mestre Bita do Barão); Tenda Santa Bárbara (Mãe Maria dos Santos);
Tenda São Cipriano (Pai Café); Tenda Nossa Senhora da Conceição (Pai Caboclo).
No que se refere à militância
estudantil concorreu à representação dos estudantes em chapas alinhadas às
posturas políticas de esquerda, em especial partidos como PT, PSTU e PSOL: no
curso de História participou de duas eleições ao Centro Acadêmico “Lagoa a
Amarela” nome que recebe em homenagem ao quilombo liderado por Cosme Bento das
Chagas o “Negro Cosme” durante a guerra civil da Balaiada; já para o Diretório
Central de Estudantes – DCE participou de apenas uma eleição sendo apenas
apoiadora do mesmo grupo em eleições subsequentes
A aproximação com os movimentos
sociais, em especial os movimentos negros, também tornou possível o diálogo com
o Partido PSTU em que Dácia fez a continuação da sua formação política. Os
temas ligados às propostas de política e sociedade que valorizam a classe
trabalhadora sempre foram de seu interesse e, junto às atividades formativas do
partido, ela foi ampliando o seu letramento social e político. Juntando os
temas da classe social com a raça, em 2015 se aproximou da entidade Fórum
Nacional Juventude Negra – FONAJUNE/MA e recebeu convite para assumir a
coordenação da entidade logo em seguida, nesse mesmo ano participou de dois encontros
nacionais: em julho na Conferência Livre de Saúde da População Negra em
Brasília e; em dezembro Recife no Pré-encontro Nacional do FONAJUNE.
Contexto Econômico Durante a Formação Acadêmica
Durante sua vivência em São Luís, precisou parte de sua estadia com
parentes que moravam na capital, porém sob tratamento desumanizado de moradores
parceiros e violência sexual de um de seus parentes a levaram a se mudar duas
vezes, respectivamente em cada situação, até que, depois de uma tentativa
conseguiu se inscrever para o Programa de Assistência Estudantil da UFMA
(Residência Estudantil; Bolsa Estágio e Bolsa Alimentação), quando em 2006 se
muda para o Lar Universitário Rosa Amélia Gomes Bógea (Centro Histórico, Bairro
Praia Grande), inclusive assume, por meio de votação, a Coordenação Geral da
Residência, passando a ser representante junto à Universidade, às demais
residências estudantis, ao movimento estudantil em geral e à imprensa, pois
eram muitas as denúncias feitas aos jornais para a garantia dos direitos
básicos dos estudantes residentes à época.
Experiências Profissionais
Como experiências profissionais, em São Luís ela prestou serviço em
escolas da rede pública e também privada nas escolas Comunitária Sá Viana,
Ariane Maria, Celsius, Cristo Rei e Solução Maranhense; tendo sido também
instrutora do programa “Vestibular da Cidadania” no Governo do Estado. Em 2013,
após concluir especialização, participou de seleção e foi aprovada para o
programa Darcy Ribeiro, desenvolvido pela Universidade Estadual do Maranhão, e
permaneceu como professora do Curso de História até 2015, nesse período, teve
turmas nas cidades de Icatu, Barreirinhas, Presidente Dutra, Pedreiras, Pastos
Bons, Lago da Pedra e Santa Luzia do Tide em que ministrou disciplinas como
Maranhão Imperial, Brasil Republicano e Mundo Contemporâneo.
Ao ser aprovada por concurso público
voltou à sua cidade natal em 2016. Compondo o quadro vespertino de professores
na Escola Renato Archer (no bairro Codó Novo), por meio de seletivo também
atuou na Unidade Municipal Evangélica Estevam Ângelo de Sousa, na Escola Modelo
Remy Archer e na Unidade Integrada Desembargador Sarney Costa. O
trabalho que realizava na educação formal é orientado pelas provocações
trazidas pela Lei 10.639/2003 que torna obrigatório abordar, na rotina escolar,
os temas ligados ao povo negro e que determina 20 de Novembro como Dia da
Consciência Negra, por exemplos, em 2016, o conteúdo central foi
Consciência Negra; já em 2017 abordou com seus alunos as Resistências Negras;
2018 o tema gerador que conduziu o seu planejamento escolar foi 130 anos da
Abolição no Brasil; em 2022 foi trabalhado Pós-Pandemia e retomada da cultura;
em 2023 foi Trabalho Escravo Contemporâneo.
No mesmo 2016, mais precisamente abril
daquele ano, juntamente com as professoras Lana Fernanda, Zaída Moraes, e os
Mc’s (compositores e cantores de rap) JB Negão e Mano Robson organizou a
Mobilização da Juventude Codoense movimento que, no mês seguinte se tornou
permanente, foi chamado de Coletivo Núcleo e tem como principal objetivo
combater o racismo. Esse grupo atua por meio de atividades culturais e
educativas, sendo na prática uma escola de formação orientada pela proposta
educacional da Pedagoginga. Em outras palavras, o projeto visava o
conhecer, valorizar e divulgar os saberes ancestrais afro-indígenas presentes
na identidade codoense para o fim do racismo.
Com influência da lei 10.639/2003 os
conteúdos apresentados por ela valorizam as contribuições de africanos e seus
descendentes no conhecimento produzido pelo povo brasileiro. Em 2021
desenvolveu o projeto de aulas on-line afro centradas, com canal no Youtube,
“Blogueirinha de História”, com vídeos direcionando os conteúdos para as turmas
6º Ano “U”, 7º Ano “A/B/C” E 8º Ano “C” do turno vespertino da UIM Renato
Archer. Ao encarnar uma persona de blogueirinha de internet como
características principais elementos de identidades de povos africanos do
passado e símbolos modernos de identidade afro. Nos vídeos, dois elementos se
destacam na caracterização da personagem: os óculos esportivos e coloridos sem
lentes (acessório ligado a ideia de intelectualidade) e as pinturas faciais (ligadas
às tradições ancestrais africanas). Em 2022 integra o Conselho de Cultura onde
também responde pela secretaria além de ser a titular como representantes dos
pesquisadores e intelectuais negros no Conselho de Igualdade Racial.
Atuação Educacional no Coletivo Núcleo
Na entidade a professora Dácia responde pela coordenação geral, mas
também já realizou, ao mesmo tempo, tarefas como guia de turismo no projeto
Serenatas (passeios musicais noturnos pelo centro de Codó); secretária e
atendente na Biblioteca Comunitária “Ribinha Muniz”; contadora de histórias do
Clube do Livro (Biblioteca Itinerante) fundada pelo movimento em 2017;
roteirista, figurinista, coreógrafa e cenógrafa da, também fundada em 2017,
Companhia de Artes “Teafro”; intelectual responsável pelo conceito das peças
“Negros” e “Oyá”; mestre de cerimônia dos encontros educativos e culturais
Traficando Informação (mais de 40 edições itinerantes) e Ocupação Cultural
(janeiro a dezembro de 2018 na Praça de São Sebastião); coautora e intérprete
da música “(Soldado) Vem Pra Guerra”: Hino do Coletivo Núcleo; direção e
produção do ciclo de lives comemorativas do Coletivo Núcleo -
5 Anos (2021); produção cultural do Festival Codó Afro (2022; responsável pelas
mídias sociais da entidade e contato com a imprensa também desempenhando a
função de assessoria de comunicação.
O impacto positivo da atuação do
movimento levou a divulgação do nome da professora Dácia pelo trabalho
desenvolvido pelo Coletivo Núcleo e eles passaram a ser convidados por escolas
públicas e privadas para compartilhar detalhes de como é possível combater o
racismo por meio de palestras e oficinas. Nesse mesmo, sentido ela conduziu uma
oficina no Ciclo de Formação para Educadores da educação do campo, dando um
passo a mais, pois essa é uma das principais exigências da lei
10.639/2003 para que os professores não trabalhem para combater racismo no
improviso ou sem a devida fundamentação teórica. Buscando dar peso ao
movimento, a professora passou a participar das conferências, fóruns e
conselhos que servem de controle social da execução das políticas públicas como
as voltadas para a juventude, educação, cultura e igualdade racial em que ela
foi a representação do movimento em mais de uma oportunidade após integrar o
Conselho de Cultura.
No início do ano de 2020 a convite da
Diocese de Coroatá, na pessoa do mestre de cultura popular Orlando Matos, se
reuniu a lideranças negras (do campo e da cidade) do leste maranhense quando
estruturaram a Pastoral Afro-brasileira que visa ser um mecanismo de combater o
preconceito, principalmente com as religiões afro-brasileiras, convidando a
comunidade cristã-católica a realizar o diálogo inter-religioso. Nesse mesmo
ano o Coletivo Núcleo recebe convite da UFMA/Codó para colaborar com os
processos seletivos dos alunos cotistas e atuar na Comissão de
Heteroidentificação sendo o convite repetido em 2021 e 2022 apesar de, nos
momentos de trabalho, a professora Dácia avaliar com rigidez as exigências da
comissão; o IFMA/Codó também buscou no Coletivo Núcleo contribuições como esses
processos e a postura mantida por ela é a mesma para que o sistema de ações
afirmativas funcione em benefício daqueles que precisam.
Com essa trajetória entre cultura e
educação no final de 2020 a professora Dácia Abreu se inscreveu nos editais
individuais e coletivos da Lei Aldir Blanc (auxílio emergencial da cultura),
sendo o grupo selecionado em três categorias: Coletivo Núcleo como entidade
cultural Negra; Companhia de Artes “Teafro” como grupo teatral B e Dácia Abreu
como Mestre de Cultura Afro Brasileira. A primeira parte que eram as bolsas de
auxílio financeiro foram recebidas na virada do ano para 2021 e garantiram a
manutenção de atividades e compromissos daquele ano, em especial das lives,
pois foi por meio destes recursos em mãos que se terceirizou os serviços nesse
momento que o movimento, ainda se reagrupando de situações internas vividas nos
anos anteriores, se encontrava fragilizado. A diplomação dos selecionados no
edital passou por incertezas, uma vez que aconteceu em período de mudanças na
colocação de cargo no poder executivo a nível municipal (mudança de prefeito) e
foi agendada para acontecer na abertura da Semana de Consciência Negra
realizada em parceria pela Secretaria de Juventude, Cultura e Igualdade Racial
com o Conselho Municipal de Cultura em novembro de 2022.
Comentários