10. Hemetério José dos Santos



Um Abolicionista Patrono da Academia Brasileira de Filologia

 

Nascido da Vila de Codó em 1858, três décadas antes da Lei Áurea, Hemetério José dos Santos criado em contexto pós-balaiada maranhense, se tornou um nome importante a se referenciar por uma educação que se preocupasse com as questões raciais em plena época escravagista e imperial. Já adiantado sobre a educação dos mais pobres e da população racializada, Hemetério foi um exímio crítico àquela sociedade, podendo ser até os dias de hoje uma referência no que tange reflexões para a intelectualidade e educação antirracista. 

Filho de “Maria”, uma mulher negra escravizada, Hemetério teve a sua infância bem próxima da realidade desumana da escravidão monárquica. Visto que ao nascer fora registrado como livre, Dr. Aderaldo Pereira (2019) indica a possibilidade de que a mãe do professor tenha utilizado da política de negociação para obter a liberdade de Hemetério.

 

Formação e Experiência Educacional Antirracista

 

 Aos 16 anos se muda para a capital brasileira da época, Rio de Janeiro, onde realiza seus estudos e conclui seu magistério, permanecendo na capital ao longo de sua carreira.

Era preciso consolidar um lugar no magistério, e as evidências encontradas [...] deixam ver o que denomino aqui de jogadas de mestre [...] publicou sua primeira gramática e o Livro dos meninos. Criou seu próprio colégio. Fez conferências filológicas, conferência emancipacionista e, no apagar das luzes da Monarquia, conseguiu ingressar no corpo docente do Colégio Imperial Militar (Pereira, 2019, p. 94).

A determinação de Hemetério em ganhar a vida como professor particular permite que ele conquiste o seu espaço no campo educacional, antigo explicador particular de uma escola de prestígio na época, o colégio Pedro II, foi gestor do Colégio Froebel, o qual ele mesmo criou. Com espaço para o jardim de infância, um dos primeiros do Brasil, e seções para alunos de 6 a 12 anos, que foi reforçada pela presença da Professora D. Maria da Conceição de Melo Moraes e Arthur Higgins, se formava um projeto de educação popular.

Seu trabalho logo ao início preocupado com alunos analfabetos e sob um horizonte abolicionista, a influência de Hemetério na educação brasileira é significativa. Denotando certa parceria com José do Patrocínio, nome emblemático na luta abolicionista brasileira, há que se possa dizer que Hemetério atuou na retaguarda do movimento antirracista enquanto educador. Após a abolição, o professor conseguiu entrar como docente no Colégio Imperial Militar, em 1889, sendo o primeiro homem negro a alcançar o posto de major da instituição.

 

Pretidão de Amor

 

Ao longo de sua jornada educativa, o professor se preocupava em trazer o afeto na literatura como uma maneira de ressignificar os valores pejorativamente associados a negritude e o povo preto, uma maneira de transformar o que antes era, do ponto de vista racista, motivo de vergonha, em orgulho de ser preto. Uma obra que exemplifica e sintetiza esse horizonte que Hemetério planejava para a educação, foi a conferência Pretidão de Amor, elaborada pelo intelectual, que faz referência direta ao poema de Camões.

Em período pós abolicionista, Hemetério percorre um caminho inverso do discurso republicano proposto, se apropriando da volatilidade e ambivalência características do mestiço brasileiro, uma vez projetado como um caminho ao branqueamento eugenista das teorias racialistas de sua época, por via de Hemetério, todavia, essa mestiçagem positivada aparece como uma possibilidade de defender uma negritude positivada, a fim de romper com a ideia de que o negro deveria desaparecer (Silva, 2014).

 

REFERÊNCIAS

SANTOS, A. P. Arma da Educação: cultura política, cidadania e antirracismo nas experiências do professor Hemetério José dos Santos (1870 – 1930). Tese de doutorado - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação, Programa de Pós Graduação em Educação. Rio de Janeiro. 429. 2019.

SILVA, L. S. . Negro, intelectual e professor: Hemetério José dos Santos e as questões raciais de seu tempo (1875 ? 1920). In: XVI Encontro Regional de História da Anpuh-Rio: saberes e práticas científicas, 2014, Rio de Janeiro. Anais do XVI Encontro Regional de História da Anpuh-Rio: saberes e práticas científicas, 2014. p. 1-11.

A HISTÓRIA DO PROFESSOR NEGRO E ANTIRRACISTA QUE ENSINOU DURANTE A ESCRAVIDÃO. Folha de S. Paulo, 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2020/07/a-historia-do-professor-negro-e-antirracista-que-ensinou-durante-a-escravidao.shtml. Acesso em: 12 de Jul. 2024.

 

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