13. Joseane Catanhede
Origem
Codoense, nascida em 1974, criada no “pé do morro” do São
Francisco, Joseane Catanhede é filha do pedreiro Antônio Jorge e de Zeni
Pereira Catanhede. A rua do cemitério é onde vários membros da família residem.
Professora há 33 anos, a professora tem uma experiência que
vai desde educação infantil até a função de diretora de ensino na Unidade
Regional de Educação do Estado na qual também faz parte da rede por ser
diretora efetiva, já deu aula para EJA e adolescentes do ensino médio à tarde.
Joseane é a primogênita dos nove irmãos, sendo sete destes
criados pela mãe Zeni. Hoje é casada e tem dois filhos, José Araújo Santos Neto,
e da Érica Jorgeana Santos Moraes. Atualmente vive no Bairro Santo Antônio no
município de Codó.
Educação 1 série em 1981 começou o ensino médio em 1989, em
91 com 16 concluiu o magistério, do 3 ano do magistério fez vestibular e
passou, fez curso de letras na UEMA. Não foi fácil por conta da vida do
trabalho, e no fim da tarde pegava expresso timbiras e ia para faculdade, até o
surgimento da PROCAD facilitou um pouco mais por conta da família numerosa e
mesmo com o trabalho não se tinha tanta condição.
Joseane realizou seu primário no colégio Clodomir Millet,
seu ginásio no Complexo Educacional Renê Bayma, e o magistério foi realizado no
Centro de ensino Luzenir Mata Roma, logo se formou pela UEMA em Letras, sendo
também especializada em linguística. A sua inserção na faculdade ocorreu
concomitantemente com o período em que os concursos públicos começaram no
Brasil, foi como conseguiu a façanha de dar aula no ano seguinte em quando
fazia faculdade de letras e começou a lecionar aos 17 (dezessete) anos na mesma
escola em que concluiu o ensino médio.
Experiência na educação
Sem piso de magistério, sem LDB, só após a implementação
feita pelo Ricardo Archer que o salário melhorou, a partir desse período se
pode fazer conta em banco como professora. Por não terem um salário base, a
gestora lembra em nossa entrevista que cada prefeitura pagava o tanto que queria,
mas quando apareceu o FUNDEF e o FUNDEB se pôde ter o contracheque impresso e poder
tirar o dinheiro da boca do caixa com conta corrente, cartão e etc.
Antes a gente nem recebia dentro do banco pra você ter
uma ideia, a gente recebia [...] do lado do Banco do Brasil [...] ou então na
União Artística que é um pouco depois de lá. O funcionário ia com uma mala de
dinheiro, a gente recebia e assinava um recibo.
Já foi gestora escolar e coordenadora de educação
fundamental em fases iniciais, já foi coordenadora de projetos, com 33 anos de
jornada como mulher negra e educadora. Atualmente diretora de uma unidade
regional do estado do maranhão, fala sobre seus desafios enquanto mulher negra
de origem humilde para alcançar o lugar que ocupa hoje na educação do
município, desafios esses nem sempre visíveis aos alheios a sua história.
O seu papel como organizadora de eventos por serem
diretamente vinculados com a instituição de ensino acabaram por colocar seu
nome muitas vezes no lugar de colaboradora, não de mentora desses projetos. E
as homenagens eram elaboradas pensando na gestão da escola, coisa que também
afetava outros professores e professoras da instituição, coisa que só veio
acabar porque agora se pode fazer artigos, escrever para as revistas e registrar
academicamente os feitos para a educação.
A professora Joseane também vem se debruçando a respeito da
legislação sobre a educação, e por ser da área de Letras e sendo da diretoria
de educação, redimensiona seu lugar enquanto pesquisadora sobre as questões
macro da educação. Como pesquisadora também realizou trabalhos de pesquisa pela
FAPEMA, que elabora na semana nacional de ciência e tecnologia, projetos que
também eram trabalhados em sala de aula quando professora e que são levados
para a praça pública. Desta forma demonstrando seu compromisso com o ensino,
pesquisa e extensão tão caros para a educação codoense.
Professora Joseane afirma que apesar da pobreza e do
preconceito, nunca se viu fora do campo da educação, embora também destaque que
sair dessa posição nunca foi uma opção por não existir em nosso município
projeções de vida para outras áreas dignas. Os olhares atravessados pelo
racismo e também por ter entrado muito nova, sendo uma aluna egressa do Luzenir
Mata Roma, e aos 17 se tornando professora ao lado de outros da área da
educação até 20 anos mais velhos, foram o lembrete de que ela não podia parar
por conta da discriminação.
Joseane reforça que a leitura e saneamento básico é um
direito humano, e a forma com a qual os acessos são ofertados, primeiro do
centro, depois para a periferia, que é como ocorre no município, não é
desejável nem suficiente. O papel do trabalhador eleito quando cumprido pode
ser sim aplaudido, mas é o papel dele, e cabe a nós reivindicarmos nossos
direitos.
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